A INCLUSÃO DO DISLÉXICO NA ESCOLA
Prof. Mario Angelo Braggio[1]
Orientador Educacional e
Psicomotricista
MEC 14567
DISLEXIA E ESCOLA
É na escola que a dislexia,
de fato, aparece. Há disléxicos que revelam suas dificuldades em outros
ambientes e situações, mas nenhum deles se compara à escola, local onde a
leitura e a escrita são permanentemente utilizadas e, sobretudo, valorizadas.
Sempre houve disléxicos nas
escolas. Entretanto, a escola que conhecemos certamente não foi feita para o
disléxico. Objetivos, conteúdos, metodologias, organização, funcionamento e
avaliação nada têm a ver com ele. Não é por acaso que muitos portadores de
dislexia não sobrevivem à escola e são por ela preteridos. E os que conseguem
resistir a ela e diplomar-se fazem-no, astuciosa e corajosamente, por meio de artifícios, que lhes permitem
driblar o tempo, os modelos, as exigências burocráticas, as cobranças dos
professores, as humilhações sofridas e, principalmente, as notas.
ATENDIMENTO A DISLÉXICOS NO EXTERNATO
O Externato Nossa Senhora Menina, localizado no bairro da Mooca, em
São Paulo[2], vem atendendo disléxicos
desde 1995. Dentre os quase 1000 alunos matriculados (Educação Infantil ao
Ensino Médio), atende, no momento[3], a 78 alunos com esse diagnóstico[4],
do 3º ano do Ensino Fundamental à 3ª série do Ensino Médio.
MUDANÇAS NA ESCOLA
A inclusão do aluno
disléxico na escola, como pessoa portadora de necessidade educacional, está
garantida e orientada por diversos textos legais e normativos. A Lei 9.394, de
20/12/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), por exemplo, prevê que a
escola o faça a partir do artigo 12, inciso I, no que diz respeito à elaboração e à execução da sua Proposta
Pedagógica; o inciso V, do mesmo artigo, diz que a escola deve prover meios para a recuperação dos alunos de menor
rendimento; o artigo 23 permite à escola organizar a educação básica em séries anuais, períodos semestrais,
ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não seriados, com
base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de
organização; o artigo 24, inciso V, alínea a), prevê que a avaliação seja contínua e cumulativa, com a prevalência dos
aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do
período[5].
Diante de tais possibilidades,
o Externato, ao construir sua Proposta Pedagógica e rever o Regimento Escolar, já o fez considerando o aluno disléxico.
No que diz respeito à
avaliação, por exemplo, o Externato
explicitou na Proposta Pedagógica as seguintes possibilidades:
a) provas escritas, de caráter operatório,
contendo questões objetivas e/ou dissertativas, realizadas individualmente e/ou
em grupo, sem ou com consulta a qualquer fonte;
b) provas orais, através de discurso ou argüições, realizadas individualmente ou
em grupo, sem ou com consulta a qualquer fonte;
c) atividades práticas, tais como trabalhos variados, produzidos e
apresentados através de diferentes expressões e linguagens, envolvendo estudo,
pesquisa, criatividade e experiências práticas, realizados individualmente ou
em grupo, intra ou extraclasse;
d) observação de comportamentos, tendo por base os valores e as atitudes
identificados nos objetivos da escola
(solidariedade, participação, responsabilidade, disciplina e ética).
A experiência tem
demonstrado a necessidade de se manter a comunidade educativa permanentemente
informada a respeito da dislexia. Informações sobre eventos que tratam do assunto e seus resultados,
desempenho dos alunos portadores de dislexia, características da síndrome, maneiras de ajudar o aluno disléxico na
escola, etc. No Externato chamamos a
isso de informação de manutenção, cujos objetivos são prevenir, alertar e
orientar os docentes no seu trabalho. Tais informações são veiculadas em
reuniões e por meio de cartazes, informativos internos, folders
sobre o assunto, etc.
Não é necessário que alunos
disléxicos fiquem em classe especial. Alunos disléxicos têm muito a oferecer
para os colegas e muito a receber deles. Essa troca de humores e de
saberes, além de afetos, competências e habilidades só faz crescer a amizade, a
cooperação e a solidariedade. O que nós, do Externato, temos feito, até então, é colocar alunos disléxico de
uma mesma série em classes diferentes, e a experiência tem dado certo.
O diagnóstico de dislexia
traz quase sempre indicação para acompanhamento específico em uma ou mais áreas
profissionais (fonoaudiologia,
psicologia, psicopedagogia...), de acordo com o tipo e nível de dislexia
constatados. Assim sendo, a escola procura assegurar, desde logo, os canais de
comunicação com o(s) profissional(is) envolvido(s), tendo em vista a troca de
experiências e de informações.
Todos os professores que
trabalham com a classe sabem que tal aluno é disléxico e o próprio também sabe
disso. Quanto aos colegas, deixamos a critério do aluno: se ele quiser contar
para os companheiros, que o faça; se ele quiser que nós o auxiliemos a contar
para eles, nós o fazemos; se ele não quiser falar disso com terceiros, ninguém
o fará. Dessa forma, temos alunos que já passaram por várias séries sem terem
chamado a atenção dos colegas e sem terem sentido a necessidade de revelar-se,
assim como há aqueles que o fazem sem cerimônia.
Hoje, depois desses anos de
prática, temos professores que já criaram uma metodologia própria para lidar com os disléxicos. Os que vão
trabalhando com eles nas séries seguintes já os conhecem das anteriores e sabem
como agir com eles; isso parece facilitar, e muito, o trabalho.
DIFICULDADES
·
não há um método, uma cartilha, uma receita, para trabalhar com alunos disléxicos. Assim sendo, é
preciso mais tempo e mais ocasiões para a troca de informações sobre os alunos,
planejamento de atividades e elaboração de instrumentais de avaliação
específicos;
·
relutância inicial (ou dificuldade, mesmo) por parte de
alguns professores para separar o
comportamento do aluno disléxico das suas dificuldades;
·
receio do professor em relação às normas burocráticas, aos
companheiros de trabalho, aos colegas do
aluno disléxico, familiares, etc.;
·
angústia do
professor em relação ao nível de aprendizado do aluno e às suas condições para
enfrentar o vestibular;
· tempo necessário para cada
professor percorrer a sua trajetória pessoal
em relação a esta questão.
PROCEDIMENTOS BÁSICOS
·
Trate o aluno disléxico com naturalidade. Ele é
um aluno como qualquer outro; apenas,
disléxico. A última coisa para a qual o diagnóstico deveria contribuir seria
para (aumentar) a sua discriminação.
·
Use linguagem direta, clara e objetiva quando falar com ele. Muitos
disléxicos têm dificuldade para compreender uma linguagem (muito) simbólica,
sofisticada, metafórica. Seja simples, utilize frases curtas e concisas ao
passar instruções.
·
Fale olhando diretamente para ele. Isso ajuda, e muito.
Enriquece e favorece a comunicação.
·
Traga-o para perto da lousa e da mesa do professor. Tê-lo
próximo à lousa ou à mesa de trabalho do professor, pode favorecer o diálogo,
facilitar o acompanhamento, facultar a orientação, criar e fortalecer novos vínculos...
·
Verifique sempre e discretamente se ele demonstra estar entendendo
a sua exposição. Ele tem dúvidas a respeito do que está sendo
objeto da sua aula? Ele consegue entender o fundamento, a essência, do conhecimento que está sendo
tratado? Ele está acompanhando o
raciocínio, a explicação, os fatos? Repita sempre que preciso e apresente
outros exemplos, se for necessário.
·
Certifique-se de que as instruções para determinadas tarefas foram
compreendidas. O que, quando, onde, como, com o quê, com quem,
em que horário, etc. Não economize tempo para constatar se ficou realmente claro para o aluno o que se
espera dele.
·
Observe discretamente se ele fez as anotações da lousa e de
maneira correta antes de apagá-la. O disléxico tem um ritmo
diferente dos não-disléxicos, portanto, evite submetê-lo a pressões de tempo ou
competição com os colegas.
·
Observe se ele está se integrando com os colegas. Geralmente,
o disléxico angaria simpatias entre os companheiros. Suas qualidades e
habilidades são valorizadas, o que lhes favorece no relacionamento. Entretanto, sua inaptidão para certas atividades
escolares (provas em dupla, trabalhos em grupo, etc.) pode levar os colegas a
rejeitá-lo nessas ocasiões. O professor deve evitar situações que evidenciem
esse fato. Com a devida distância, discreta e respeitosamente, deve contribuir
para a inserção do disléxico no grupo-classe.
·
Estimule-o, incentive-o, faça-o acreditar em si, a sentir-se
forte, capaz e seguro. O
disléxico tem sempre uma história de frustrações, sofrimentos, humilhações e
sentimentos de menos valia, para a qual a escola deu significativa
contribuição. Cabe, portanto, a essa mesma escola, ajudá-lo a resgatar sua
dignidade, a fortalecer seu ego, a (re)
construir sua auto-estima.
·
Sugira-lhe “dicas”, “atalhos”, “jeitos de fazer”, “associações”...
que o ajudem a lembrar-se de, a
executar atividades ou a resolver
problemas.
·
Não lhe peça para fazer coisas na frente dos colegas, que o deixem
na berlinda: principalmente ler em voz alta.
·
Atenção: em geral, o disléxico tende a lidar melhor com as partes
do que com o todo. Abordagens e métodos globais e dedutivos são-lhe
de difícil compreensão. Apresente-lhe o
conhecimento em partes, de maneira indutiva.
·
Permita, sugira e estimule o uso de gravador, tabuada, máquina de
calcular, recursos da informática...
·
Permita, sugira e estimule
o uso de outras linguagens.
PROCEDIMENTOS QUANTO À AVALIAÇÃO
O disléxico tem
dificuldade para ler. Assim sendo,
·
avaliações que contenham exclusivamente textos,
sobretudo textos longos, não devem ser aplicadas a tais alunos;
·
utilize uma única fonte, simples, em toda a prova (preferencialmente “Arial 11”
ou Times New Roman 12), evitando-se misturas de fontes e de tamanhos, sobretudo
as manuscritas, as itálicas e as
rebuscadas);
·
dê preferência a avaliações orais, através das
quais, em tom de conversa, o aluno tenha a oportunidade de dizer o que sabe
sobre o(s) assunto(s) em questão;
·
não indique livros para leituras paralelas. Quando
necessário, proponha outras experiências que possam contribuir para o alcance
dos objetivos previstos: assistir a um filme, a um documentário, a uma peça de
teatro; visitar um museu, um laboratório, uma instituição, empresa ou
assemelhado; recorrer a versões em quadrinhos, em animações, em programas de
informática;
·
ofereça uma folha de prova limpa, sem rasuras, sem
riscos ou sinais que possam confundir o leitor;
·
ao empregar questões falso-verdadeiro:
o construa um bom
número de afirmações verdadeiras e em seguida reescreva a metade, tornando-as
falsas;
o evite o uso da
negativa e também de expressões absolutas;
o construa as afirmações
com bastante clareza e, aproximadamente com a mesma extensão;
o inclua somente uma
idéia em cada afirmação;
·
ao empregar questões de associações:
o trate de um só
assunto em cada questão;
o redija cuidadosamente
os itens para que o aluno não se atrapalhe com os mesmos;
·
ao empregar questões de lacuna:
o use somente um claro,
no máximo dois, em cada sentença;
o faça com que a lacuna
corresponda à palavra ou expressão significativas, que envolvam conceitos e
conhecimentos básicos e essenciais - também chamados de “ferramentas”, e não a
detalhes secundários;
o
conserve a terminologia presente no livro adotado ou
no registro feito em aula.
O disléxico tem dificuldade para
entender o que lê; para decodificar o texto; para interpretar a mensagem;
tende a ler e a interpretar o que ouve
de maneira literal. Assim sendo,
·
utilize linguagem clara, objetiva, com termos
conhecidos;
·
elabore
enunciados com textos curtos, com linguagem objetiva, direta, com palavras
precisas e inequívocas (sem ‘duplo’ sentido);
·
procure
deixar as questões ou alternativas com a mesma extensão;
·
evite
formular questões que possuem negativas;
·
trate
de um só assunto em cada questão;
·
se for indispensável à utilização de um determinado
texto, subdivida o original em partes (não mais do que cinco ou seis linhas
cada uma);
·
divida um “grande” texto, do qual decorre uma
“grande” questão, em “pequenos” textos
acompanhados de suas respectivas questões;
·
recorra a símbolos, sinais, gráficos, desenhos,
modelos, esquemas e assemelhados, que possam fazer referência aos conceitos
trabalhados;
·
não utilize textos científicos ou literários
(mormente os poéticos), que sejam densos, carregados de terminologia
específica, de simbolismos, de eufemismos, de vocábulos com múltiplas
conotações... para que o aluno os interprete exclusivamente a partir da
leitura. Nesses casos, recorra à oralidade;
·
evite estímulos visuais ‘estranhos’ ao tema em questão;
·
em utilizando figuras, fotos, ícones ou imagens,
cuidar para que haja exata correspondência entre o texto escrito e a imagem;
·
leia a prova em voz alta e, antes de iniciá-la,
verifique se os alunos entenderam o que foi perguntado, se compreenderam o que
se espera que seja feito (o que e como);
·
destaque claramente o texto de sua(s) respectiva(s)
questão(ões).
O disléxico tem dificuldade para
reconhecer e orientar-se no espaço visual. Assim sendo,
·
observe as direções da escrita (da esquerda para a
direita e de cima para baixo) em todo o corpo da avaliação.
O disléxico tem
dificuldade com a
memória visual e/ou auditiva (o que lhe dificulta ou lhe
impede
de
automatizar a leitura e a escrita). Assim sendo,
·
repita o enunciado na(s) página(s) seguinte(s),
sempre que se fizer necessário;
·
não elabore avaliações que privilegiem a
memorização de nomes, datas, fórmulas, regras gramaticais, espécies,
definições, etc. Quando tais informações forem importantes, forneça-as ao aluno
(verbalmente ou por escrito) para que ele possa servir-se delas e empregá-las
no seu raciocínio ou na resolução do problema;
·
privilegie a avaliação de conceitos e de
habilidades e não de definições;
·
permita-lhe que utilize a tabuada, calculadora,
gravador, anotações, dicionários e outros registros durante as avaliações;
·
instruções curtas e simples (e uma de cada
vez) evitam confusões;
·
elabore questões em que o aluno possa demonstrar o
que aprendeu completando, destacando, identificando, relacionando ou
reconhecendo informações ali contidas.
O aluno disléxico
ou com outras dificuldades de aprendizagem tende
a ser lento (ou muito lento).
Assim
sendo,
·
dê-lhe mais tempo para realizar a prova;
·
possibilite-lhe fazer a prova num outro ambiente da
escola (sala de orientação, biblioteca, sala de grupo);
·
elabore mais avaliações e com menos conteúdo, para
que o aluno possa realizá-las num menor tempo.
Considere
que o disléxico já tem dificuldade para automatizar o código lingüístico da sua
própria Língua e isso se acentua em
relação à língua estrangeira.
ALGUNS ASPECTOS PRÁTICOS EM RELAÇÃO À AVALIAÇÃO
·
Não espere acumular conteúdos para começar a aplicar
as avaliações. Ao contrário, aplique-as amiúde, de acordo com a progressão dos
estudos, dando mais oportunidades aos
alunos e evitando o acúmulo de conteúdos
a serem estudados. Para os disléxicos é preferível mais avaliações com menos
conteúdo em cada uma delas.
·
Sempre que possível, prepare avaliação
individualizada. O ideal é que os instrumentais de avaliação sejam elaborados
de acordo com as características do aluno disléxico. Desenhos, figuras,
esquemas, gráficos e fluxogramas, ilustram, evocam lembranças, ou substituem
muitas palavras e levam aos mesmos objetivos[6].
·
Se for idêntica à dos
colegas:
·
leia (você mesmo) os enunciados em voz alta,
certificando-se de que ele compreendeu as questões;
·
durante a prova preste-lhe a orientação necessária
para que ele compreenda o que está sendo
pedido e possa responder da melhor maneira possível;
·
respeite o seu ritmo permitindo-lhe, quando
necessário, que a conclua na aula seguinte ou em outro lugar (sala da
orientação pedagógica, sala da orientação educacional, biblioteca...);
·
ao corrigi-la, valorize não só o que está explícito
como também o implícito e adapte os critérios de correção para a sua realidade;
·
não faça anotações na folha da prova (sobretudo
juízos de valor);
·
não registre a nota sem antes
·
retomar a prova com ele e verificar, oralmente, o
que ele quis dizer com o que escreveu;
·
pesquisar, principalmente, sobre a natureza do(s)
erro(s) cometido(s): ex.: Não entendeu o
que leu e por isso não respondeu corretamente ao solicitado? Leu, entendeu, mas
não soube aplicar o conceito ou a fórmula? Aplicou o conceito (ou a fórmula)
mas desenvolveu o raciocínio de maneira errada? Em
outras palavras: em que errou e por que errou?
·
somente a aplique se entender que o aluno terá
realmente condições de revelar seu aproveitamento através dela. Caso contrário,
por que aplicá-la? Para ressaltar - mais uma vez - a sua incapacidade?
·
Dê ao aluno a opção de fazer prova oral ou atividade
que utilize diferentes expressões e linguagens.
Exigir que o disléxico comunique o que sabe, levante questões, proponha
problemas e apresente soluções exclusivamente através da leitura e da escrita é
violentá-lo; é, sobretudo, negar-lhe um
direito – natural – de comunicar-se, de criar, de
livre-expressar-se.
TODOS GANHAMOS
A experiência do Externato tem sido
positiva e só tem trazido ganhos para toda a comunidade educativa. Eis
alguns dos motivos que nos levam a fazer tal afirmação:
·
refletir sobre o disléxico, tentar compreender
suas dificuldades, posicionarmo-nos em relação a ele e garantir-lhe direitos e
espaço, tem sido um excelente exercício de cidadania e tem beneficiado a todos
os alunos sem ou com dificuldades de qualquer natureza;
·
criticar, repensar e modificar a prática
pedagógica, por causa e a partir dos alunos disléxicos, têm-nos levado, sempre,
a refletir sobre o cotidiano da escola
como um todo e tem gerado mudanças vantajosas para todos os alunos;
·
ao modificarem sua prática pedagógica, vários
professores incorporaram a ela novas tecnologias e técnicas de trabalho em
grupo, tornando-as mais dinâmicas,
interessantes e motivadoras;
·
o acompanhamento dos alunos disléxicos, através de
ação integrada entre a direção e os serviços de orientação pedagógica e
educacional (especialmente entre estes últimos), tem gerado desdobramentos que
favorecem a escola como um todo e contribuem para a melhoria da qualidade do
trabalho;
·
dar oportunidades para os disléxicos externarem
os seus dons resulta em benefícios para todos.
Há muito por aprender e muito
por fazer. Nossas certezas são provisórias. Cada aluno disléxico é único e cada
experiência traz novas demandas.
ANEXO
LEGISLAÇÃO NACIONAL
Lei 8.069, de 13 de
julho de 1990 (ECA) - artigo 53, incisos
I, II e III
“a criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno
desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e
qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes: I – igualdade de condições
para o acesso e permanência na escola; II – direito de ser respeitado pelos
seus educadores; III – direito de contestar critérios avaliativos, podendo
recorrer às instâncias escolares superiores”
Lei 9.394/96 (LDB)
Art. 12 - Os
estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de
ensino, terão a incumbência de: I - elaborar e executar sua Proposta
Pedagógica; V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento.
Art. 13 - Os
docentes incumbir-se-ão de:III, zelar pela aprendizagem dos alunos; IV,
estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento.
Art. 23 - A
educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais,
ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não seriados, com
base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de
organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o
recomendar.
Art. 24, V, a)
avaliação contínua e cumulativa; prevalência dos aspectos qualitativos sobre os
quantitativos e dos resultados ao longo do período
Lei 10.172 de 9 de janeiro de 2001 -
Plano Nacional de Educação - Capítulo 8 - Da Educação Especial
8.2 - Diretrizes
A educação especial se destina a pessoas com necessidades
especiais no campo da aprendizagem, originadas quer de deficiência física,
sensorial, mental ou múltipla, quer de características como de altas
habilidades, superdotação ou talentos.
(...)
A
integração dessas pessoas no sistema de ensino regular é uma diretriz
constitucional (art. 208, III), fazendo parte da política governamental há pelo
menos uma década. Mas, apesar desse relativamente longo período, tal diretriz
ainda não produziu a mudança necessária na realidade escolar, de sorte que
todas as crianças, jovens e adultos com necessidades especiais sejam atendidos
em escolas regulares, sempre que for recomendado pela avaliação de suas
condições pessoais. Uma política explícita e vigorosa de acesso à educação, de
responsabilidade da União, dos Estados e Distrito Federal e dos Municípios, é uma
condição para que às pessoas especiais sejam assegurados seus direitos à
educação. Tal política abrange: o âmbito social, do reconhecimento das
crianças, jovens e adultos especiais como cidadãos e de seu direito de estarem
integrados na sociedade o mais plenamente possível; e o âmbito educacional,
tanto nos aspectos administrativos (adequação do espaço escolar, de seus
equipamentos e materiais pedagógicos), quanto na qualificação dos professores e
demais profissionais envolvidos. O ambiente escolar como um todo deve ser
sensibilizado para uma perfeita integração. Propõe-se uma escola integradora,
inclusiva, aberta à diversidade dos alunos, no que a participação da comunidade
é fator essencial. Quanto às escolas especiais, a política de inclusão as reorienta
para prestarem apoio aos programas de integração.
(...)
Requer-se
um esforço determinado das autoridades educacionais para valorizar a
permanência dos alunos nas classes regulares, eliminando a nociva prática de
encaminhamento para classes especiais daqueles que apresentam dificuldades
comuns de aprendizagem, problemas de dispersão de atenção ou de disciplina. A
esses deve ser dado maior apoio pedagógico nas suas próprias classes, e não
separá-los como se precisassem de atendimento especial.
Parecer CNE/CEB
nº 17/2001 // Resolução CNE/CEB nº 2, de 11 de setembro de 2001
“O quadro das dificuldades de aprendizagem absorve
uma diversidade de necessidades educacionais, destacadamente aquelas associadas
a: dificuldades específicas de aprendizagem como a dislexia e disfunções correlatas;
problemas de atenção, perceptivos, emocionais, de memória, cognitivos,
psicolingüísticos, psicomotores, motores, de comportamento; e ainda há fatores
ecológicos e socioeconômicos, como as privações de caráter sóciocultural e nutricional.”
LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA PARA O ESTADO DE SÃO PAULO
Deliberação CEE (Conselho Estadual de Educação) 11/96,
artigo 1º:
“o resultado final da avaliação feita pela Escola, de acordo com seu
regimento, deve refletir o desempenho global do aluno durante o período letivo,
no conjunto dos componentes curriculares cursados, com preponderância dos
aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados obtidos durante o
período letivo sobre os da prova final, caso esta seja exigida, considerando as
características individuais do aluno e indicando sua possibilidade de
prosseguimento nos estudos”
Indicação CEE (Conselho Estadual de
Educação) nº 5/98, de 15/4/98, D.O.E. em 23/9/98
“(...) educação escolar consiste na formação integral e funcional dos
educandos, ou seja, na aquisição de capacidades de todo tipo: cognitivas,
motoras, afetivas, de autonomia, de equilíbrio pessoal, de inter-relação pessoal e de inserção social.
"(...) os conteúdos escolares não podem se limitar aos conceitos e
sim devem incluir procedimentos, habilidades, estratégias, valores, normas e
atitudes. E tudo deve ser assimilado de tal maneira que possa ser utilizado
para resolver problemas nos vários contextos.
(...) os alunos não aprendem da mesma maneira e nem no mesmo ritmo. O
que eles podem aprender em uma determinada fase depende de seu nível de
amadurecimento, de seus conhecimentos anteriores, de seu tipo de inteligência,
mais verbal, mais lógica ou mais espacial. No cotidiano da sala de aula,
convivem pelo menos três tipos de alunos que têm “aproveitamento insuficiente”:
os imaturos, que precisam de mais tempo para aprender; os que têm dificuldade
específica em uma área do conhecimento; e os que, por razões diversas, não se
aplicam, não estudam, embora tenham condições.
(...) recuperar significa voltar, tentar de novo, adquirir o que
perdeu, e não pode ser entendido como um processo unilateral. Se o aluno não
aprendeu, o ensino não produziu seus efeitos, não havendo aqui qualquer
utilidade em atribuir-se culpa ou responsabilidade a uma das partes envolvidas.
Para recobrar algo perdido, é preciso
sair à sua procura e o quanto antes melhor: inventar estratégias de busca,
refletir sobre as causas, sobre o momento ou circunstâncias em que se deu a
perda, pedir ajuda, usar uma lanterna para iluminar melhor. Se a busca se
restringir a dar voltas no mesmo lugar, provavelmente não será bem sucedida.
(...) O compromisso da Escola não é somente com o ensino, mas
principalmente com a aprendizagem. O trabalho só termina quando todos os
recursos forem usados para que todos os alunos aprendam. A recuperação deve ser
entendida como uma das partes de todo o processo ensino-aprendizagem de uma
escola que respeite a diversidade de características e de necessidades de todos
os alunos.
(...) Dentro de um projeto pedagógico
consistente, a recuperação
deve ser organizada para atender
aos problemas específicos de aprendizagem que alguns alunos apresentam, e isso
não ocorre em igual quantidade em todas as matérias nem em épocas pré-determinadas
no ano letivo. A recuperação da aprendizagem precisa: - ser imediata, assim que
for constatada a perda, e contínua; ser dirigida às dificuldades específicas do
aluno; abranger não só os conceitos, mas também as habilidades, procedimentos e
atitudes.
(...) A recuperação paralela deve ser preferencialmente feita pelo
próprio professor que viveu com o aluno aquele momento único de construção do
conhecimento. Se bem planejada e baseada no conhecimento da dificuldade do
aluno, é um recurso útil.”
Parecer CEE
(Conselho Estadual de Educação) 451/98 -
30/7/98, D.O.E. de 01/08/98, páginas 18
e 19, seção I)
"a expressão '...rendimento
escolar...' , que se encontra no inciso V do artigo 24 da Lei 9.394/96, se
refere exclusivamente à aprendizagem cognitiva? Resposta: Não. A legislação sobre avaliação/verificação
do rendimento escolar, sobretudo o
referido artigo, não restringe a expressão "rendimento escolar"
exclusivamente à aprendizagem cognitiva.
A lei 9.394/96, ao tratar da educação básica,
situou-a no quadro de abertura que permitiu, aos que dela fossem cuidar, em
seus diferentes níveis e modalidades, a pensasse como um todo e a explicitasse,
nos limites do seu texto, em sua proposta pedagógica e em seu regimento. Na
elaboração dessa proposta e desse regimento, consubstanciado certamente numa
visão de homem, de sociedade e, por conseqüência, numa concepção de educação e
de avaliação, cuidados especiais deverão ser tomados para que estejam contidos,
nesses instrumentos, procedimentos referentes ao processo ensino-aprendizagem,
e em particular ao de verificação do rendimento escolar.
O legislador deixou sob a responsabilidade da
escola e de toda sua equipe a definição do projeto de educação, de metodologia
e de avaliação a serem desenvolvidas. Abandonou detalhes para agarrar-se ao
amplo, ao abrangente. Aponta, por isso, para uma educação para o progresso,
onde estudo e avaliação devem caminhar juntos, esta última como instrumento
indispensável para permitir em que medida os objetivos pretendidos foram alcançados.
Educação vista como um processo de permanente crescimento do educando, visando
seu pleno desenvolvimento, onde conceitos, menções e notas devem ser vistos
como meros registros, prontos a serem alterados com a mudança de situação. E,
nessa busca do pleno desenvolvimento e do processo do educando, estão presentes
outros objetivos que não só os de dimensão cognitiva mas os de natureza
sócio-afetiva e psicomotora, que igualmente precisam ser trabalhados e
avaliados. O cuidado deve estar é no uso que se pode fazer desta avaliação, não
a dissociando da idéia do pleno desenvolvimento do indivíduo."
PARA APROFUNDAR INFORMAÇÕES
Ajuriaguerra J. de e outros. A dislexia em questão: dificuldades e fracassos na aprendizagem da
língua escrita. Porto Alegre, Artes Médicas, 1984.
Welchman, Marion. Dislexia:
suas dúvidas respondidas. Tradução de Maria Angela N. Nico e Eliane M. R.
Colorni. São Paulo, ABD, 1995.
Ianhez, Maria Eugênia. Nem sempre é o que parece: vencendo as barreiras da Dislexia. S.
Paulo: Alegro, 2001.
VVAA, Dislexia:
cérebro, cognição e aprendizagem. S.Paulo: Frôntis Editorial, 2000.
Série ABD - fascículos
Dislexia: a dificuldade oculta.
Descobrindo a dislexia.
Você conhece alguma criança com dificuldades
perceptuais?
O reconhecimento
da criança com dislexia.
Sugestões para
ajudar a criança disléxica em casa.
Dislexia:
implicações diagnósticas.
Sugestões para
ajudar a criança disléxica na escola.
Criatividade e a
criança disléxica: sugestões para a sala de aula.
www.dislexia. org.br (Associação Brasileira de Dislexia)
www.dislexia.net – Associación para la Dislexia y otros problemas de
aprendizaje - Ser visual / Textos /
Errores / Confusión / Desorientación / Consecuencias
www.dyslexia.com – Davis Dyslexia Association International - A Dyslexic Child in the Classroom
www..bda-dyslexia,org –
British Dyslexia Association Education
www.dislexiarecife.hpg.ig.com.br
http://busca.aol.com.br/results.adp?start=&from=+&query=dislexia
http://www.terravista.pt/AguaAlto/1430/
http://www.dyslexia.com/mexico/
http://www.dyslexiamylife.org/
(Mab/mab/maio/06)
[1] Psicomotricista especializado no atendimento a
portadores de dislexia. Responsável pelo programa de inclusão de alunos
disléxicos no Externato Nossa Senhora Menina, desde 1995. Diretor para Relações
com o Sistema Escolar da ABD - Associação Brasileira de Dislexia.
Coordenador da VITAE - Atendimento Psicopedagógico
Especializado.
[2] EXTERNATO “NOSSA SENHORA
MENINA” - Rua do Oratório, 2621- Alto da Mooca – São Paulo – SP - CEP
03117-001 - Fone/Fax)
(0**11) 6965-2083 - www.ensm.com.br
- E-mail: ensm@ensm.com.Br
[3] Maio de 2006.
[4] Há outros sete em observação.
[5] Veja anexo com síntese da legislação disponível,
incluindo a específica para o Estado de São Paulo.
[6]
Há disléxicos que não gostam e resistem às
propostas de fazer avaliações à parte, mesmo que estas lhes sejam benéficas,
preferindo estar junto dos seus pares. Não podemos aceitar isso sem constatar
se, de fato, eles têm condições de revelar o seu real aproveitamento em tais circunstâncias. Não nos cabe incentivar
e reforçar tal comportamento e, muito menos,
nos acomodarmos diante dele.
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