Dermival Almeida
Coordenador Pedagógico
Lincenciado em Letras
Grande parte das crianças quando ingressam na escola possuem vários saberes principalmente sobre a leitura, pois já conhecem os escritos mesmo sem decifrá-lo e muitos até já vivenciaram algum adulto lendo um livro ou outro material impresso, com diferentes intencionalidades, podendo assim criar várias expectativas para o desenvolvimento dessas práticas quando chegar à escola. A escola na maioria das vezes não leva em consideração essas expectativas e na tentativa de simplificar o ensino das práticas de leitura, fragmenta os textos e os alunos acabam tendo que aprender por partes, uma coisa de cada vez – primeira as letras, depois as silabas, na seqüência as frases e depois textos (muitas vezes de péssima qualidade e criado apenas com o propósito didático, desconsiderando o social).
A leitura passa então atender exclusivamente aos propósitos escolares se distanciando ao máximo das suas práticas sociais, e com isso deixa de fazer sentido para as crianças e adolescentes, pois não vêem sentido nas práticas escolarizadas de leitura, deixando uma visão totalmente distorcida do que pensavam antes do universo literário e suas práticas. Ler para responder aos imensos questionários não ajuda o estudante a referir sobre o mundo em que vive e usar a leitura como fonte de informação e transformação do mesmo. Pensemos então no que disse o educador Paulo Freire “A leitura é o meio de que dispomos para adquirir informações e desenvolver reflexões críticas sobre a realidade e o mundo em que estamos” e essa é ou deveria ser o principal objetivo da escola.

O educando segue estudando e com nosso deficiente sistema de avaliação, acaba chegando às series finais do ensino fundamental, mesmo sem saber decifrar as palavras que compõem um texto curto e de fácil leitura, alias, decifrar é a estratégia de leitura mais utilizada pela escola. A qualidade dos textos oferecidos também deixa a desejar, pois na maioria das vezes o livro didático é a única fonte de informação que chega às mãos dos estudantes, que alem de ser fragmentado e fora dos seus portadores de origem não dialogam com a realidade das crianças, não tendo funcionalidade prática.
“Eis que a primeira e talvez e mais importante estratégia didática para a prática da leitura: o trabalho com a diversidade textual. Sem ela, pode-se até ensinar a ler, mas certamente não se formarão leitores competentes”. (PCN)
É necessário que a escola ofereça momentos de leitura que coloquem as crianças e jovens novamente em contato direto com livros que lhes encantem e os envolvam, mas sem nenhuma cobrança depois, apenas que se divirtam, sem questões posteriores. Que sejam criados momentos de ouvir, ler e contar histórias, de manusear revistas, jornais, livros e que presencie momentos prazerosos de leitura, que se sinta estimulado a participar daquele mundo que a seus olhos parecia tão distante, mas, que na medida em que se aproxima dos livros, descobre então a chave que lhe dará acesso ilimitado a este mundo extraordinário. Afirma a educadora Emilia Ferreiro (2002):
“Há crianças que ingressam no mundo da linguagem escrita através da magia da leitura e outras que ingressam através do treino das tais habilidades básicas. Em geral, os primeiros se convertem em leitores, enquanto os outros costumam ter um destino incerto.”

É delegada a escola, por lei a função de assegurar o ensino de leitura, mas não apenas isso, o mais importante, porem, é formar leitores competentes, capazes não somente de conhecer a história da humanidade, mas também de interagir com ela, percebendo-se como agente capaz de influenciar de ser influenciado. Oferecer um ensino que garanta de fato à compreensão do mundo letrado nos seus diferentes aspectos e complexidade é tarefa da escola. É o que defendido e disseminado no país com letramento pela educadora Magda Soares (1999, p.3).
“É o estado de quem exerce as práticas sociais de leitura e de escrita que circulam na sociedade em que vive conjugando-as com as práticas sociais de interação oral e isso só é possível se oferecermos atividades com essa finalidade”.
Cabe também a escola interagir com a comunidade onde está inserida, convidando a participar de todas as decisões e ações importantes, como recomenda a Lei de Diretrizes e Bases da educação nacional. A escola deve criar ações dentro do Projeto Político Pedagógico que nasça com esse propósito, de perpassar as paredes das salas de aulas e os muros da escola e chegar a toda a comunidade, envolvendo a todos nessa casa tão nobre e pouco trabalhada e despertar nas crianças e jovens que serão atendidos o gosto pela leitura.
Tendo em vista que a LEITURA é condição essencial para que se possa compreender o mundo, os outros, as próprias experiências e a necessidade de inserir-se no mundo da escrita, torna-se imperativo que o aluno desenvolva habilidades lingüísticas para que possa ir além da simples decodificação de palavras. É preciso levá-lo a captar por que o escritor está dizendo o que o texto está dizendo, ou seja, ler as entrelinhas. Pode-se fazer mais: proporcionar ao aluno experiência de leitura que o levam não só assimilar o que o texto diz, mas também como e para quem diz” (Kato, 1990
Envolver as crianças efetivamente com as práticas de leitura, para que sintam conscientemente participantes no mundo em que vivem e se perceba como influente e influenciador nas relações culturais e possam passear livremente no mundo letrado e perceba este uma arma potente contra a exclusão e a pobreza que tanto assola este país.

INDICAÇÕES LITERÁRIAS:
  • BRASIL. Ministério da Educação. Língua Portuguesa. Brasília: SEF/MEC, 1996. (Série Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Fundamental 1ª a 4ª série)
  • FERREIRO, Emilia. Passado e presente dos verbos ler e escrever. São Paulo: Cortez, 2002.
  • KATO, Mary A. O aprendizado da leitura. São Paulo: Martins fonte, 1985.
  • KLEIMAN, Angela B. Os significados do letramento. Campinas: Mercado de Letras, 1995. São Paulo: Ática, 1996.
  • LERNER, Delia . “É possível ler na escola?”, in Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. (Trad.: E. Rosa) Porto Alegre: Artmed, 2002, pp. 74-102.
  • PERES, Giani. Ler é o melhor Remédio, Revista Criança. P.26. 2006.
  • TEBEROSKY, Ana e CARDOSO, Beatriz. Reflexões sobre o ensino da leitura e da escrita. Petrópolis: Vozes, 1993.
  • WEISZ, Telma. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. São Paulo: Ática, 2000.
  • ZABALA, Antoni. A prática educativa – Como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.
Fonte:http://diariodeumeducadorbaiano.blogspot.com.br

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