O projeto Cabelo e Pele, desenvolvido pela professora de Educação Física Alzira Lobato Borges, é uma verdadeira lição de valorização étnica e de autoestima
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Por ser afrodescendente, a professora de Educação Física Alzira Lobato Borges conhece muito bem a discriminação e as incontáveis dificuldades enfrentadas pelas crianças negras,principalmente em virtude do padrão de beleza europeu adotado pelos brasileiros de maneira ilógica. Afinal, somos uma nação resultante da mistura de muitas raças! Além disso, segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2010, há mais pessoas se declarando pretas e pardas no Brasil. Esse grupo, na década de 2000, subiu para 43,1% e 7,6%, respectivamente, enquanto, no censo anterior, era de 38,4% e 6,2% do total da população brasileira. Consciente de toda essa situação e por acumular a função de contadora de história da sala de leitura da E.M.E.F. José Martiniano de Alencar, Alzira introduziu a leitura de livros que auxiliam os alunos e até os professores a lidarem com os conceitos e conteúdos necessários aos conhecimentos históricos e culturais do povo negro, já visando que todos façam uma autoanálise crítica sobre valores introjetados sob a cultura negra e seu povo.
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"Às vezes, o preconceito é fruto de julgamentos, de opiniões fundamentadas em informações incorretas ou na falta delas. Portanto, um aprofundamento sobre o povo negro e suas questões é essencial para uma intervenção pedagógica positiva no ambiente escolar", explica a professora que implementou o projeto Cabelo e Pele.
O projeto em siPartindo da premissa que a identidade étnica assumida positivamente é fundamental para a autoestima do negro, por se constituir em uma estratégia necessária para o seu fortalecimento e, por conseguinte, do seu grupo em relação à aceitação social justa, Alzira começou a desenvolver uma série de ações.
De início, foram às histórias de lá e de cá (África/Brasil), filmes e rodas de conversa, que levaram à desconstrução do mito "África e Escravidão". Depois, já partindo para a prática, com a ajuda de Lucia Makena, da Casa de Angola da Prefeitura Municipal de Osasco, conhecida como a "Bonequeira de Osasco", ela implementou oficinas de bonecas negras. Mas foi com a leitura do livro Betina, que a professora contagiou, principalmente, as meninas.
A pequena história de Nilma Lino GomesRicamente ilustrado por Denise Nascimento, o livro Betina evidencia que a cabeça que pensa e recorda, pode e deve usar tranças, um penteado que requer mãos habilidosas e uma grande alegria de reafirmar valores ancestrais.
A partir desses elementos, a autora desenvolve um enredo lúdico que mostra que é possível entrelaçar cabelos e aproximar cabeças que, pensando juntas, pensam muito melhor: pois a lição do penteado, Betina aprendeu da amorosa avó e esta aprendeu com a própria mãe, que aprendeu com outra mãe, que tinha aprendido com uma tia. Só que Betina foi além e espalhou a lição para filhas e filhos, mães e avós que não eram os dela e acabou por socializar a beleza e o conhecimento com um monte gente, pois ela abriu um salão de beleza diferente e ainda ficou conhecida em vários lugares do país!
Rapidamente, graças ao lirismo encantador da história que resgata a cidadania com uma ludicidade incrível, as meninas resolveram usar tranças e outras referências afros em seus penteados. Em conjunto, com a ajuda da professora, elas perceberam como valorizar a própria beleza racial e orgulhosas de sua etnia, programaram um desfile de cabelos afro que, por sua vez, culminou com a ressignificação da estética negra, que passou a ser chamada de"Black in Beautiful".
Depois, vieram as danças que foram coreografadas por Maíra Domingues - filha de Alzira - e, em paralelo, a música afro e a elaboração de um painel com as fotos de todos os alunos afrodescendentes que, por sua vez, ganhou destaque na biblioteca da escola.
Hoje, a maioria das crianças já assumiu sua naturalidade característica e a beleza negra se consagrou na E.M.E.F. José Martiniano de Alencar. Mas, devido à dedicação das meninas, já começa a extrapolar os limites da escola!
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A questão racial Esse é um assunto de todos, que deve ser conduzido para a reeducação das relações entre descendentes de africanos, de europeus e de outros povos. Nesse contexto, também é imprescindível reconhecer a existência do racismo no Brasil e evidenciar a necessidade de valorização e respeito aos negros e à cultura africana. | |
Qualificação em História e Cultura Afro-Brasileiras Essa coleção faz parte do material didático do curso a distância de Formação para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileiras, promovido pelo Centro de Estudos Afro-Orientais, da Universidade Federal da Bahia (CEAO/UFBA). Ideal para profissionais da Educação (diretores, coordenadores e professores), além do apoio do Ministério da Educação, por meio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD/MEC), ele visa contribuir com a inclusão da temática no currículo escolar. Para obter mais informações, acessewww.ceao.ufba.br/cursoensinoafro |
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